15 de out. de 2010

LIBRAS: insere ou isola o deficiente auditivo?

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO / UFSC
CENTRO DE EDUCAÇÃO / UFSC
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS-LIBRAS
FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
Gladis Perlin e Karin Strobel

Na disciplina Fundamentos da Educação de Surdos buscamos os
conhecimentos dos fundamentos filosóficos, históricos, sociológicos e
econômicos da Educação e com isto procuramos refletir a realidade da
educação de surdos no Brasil.
O que nos trouxe ao encontro de vocês foi a necessidade de dialogarmos sobre os fundamentos da educação de surdos. E estamos sentindo que não é suficiente aquilo que é próprio da educação. Nem as aberturas buscadas pelas atuais posições culturais dos surdos. O que importa são aqueles os signos e significados fortes que deslocam as velhas construções e anunciam elementos novos e velhos que vão sendo agrupados de forma a movimentar os fundamentos da educação de surdos.
Estas mudanças de visões mostram os resultados daquilo que os surdos hoje queremos dizer como sendo um novo jeito de ser surdo. Ser surdo com identificação naquilo que rompe nos aspectos que envolvem a educação
no que nos entendia como deficientes. De nosso ponto de vista os fundamentos da educação passam a ser teorizados a partir dos espaços da cultura surda. Que pode ser definida como sendo: história cultural, língua de sinais, identidades diferentes, leis, pedagogia surda, literatura surda, e outros jeitos de ver o mundo ou seja dos espaços de Estudos Culturais e em Estudos Surdos. Estes oferecem
possibilidades (de teorizar) não são mais a partir do tradicional cujo estilo de pensamento era fundamentalmente particular para o qual as proposições surdas eram empíricas. Hoje tal posição mudou e os espaços surdos na educação se revestem de significados com o trabalho pensado dentro de certas tradições históricas, e atuais que renovam o espaço da educação do surdo.
Assim de maneira alguma, as concepções entendidas como sendo da educação especial faz parte dos fundamentos da educação dos surdos. Com a presença dos Estudos Culturais temos novos pontos de partida alguns apontamentos que direcionam:
1. Um breve passeio pelas raízes da história de educação de surdos
2. O impacto do Congresso de Milão 1880 na construção educacional
de surdos
3. Modelos educacionais na educação de surdos
4. Identidades surdas fundamentando a educação. As identificações
e os locais das identidades
5. O encontro surdo-surdo na determinação das identidades surdas.
6. As identidades surdas multifacetadas.
7. .Legislação e educação de surdos
8. As políticas de inclusão e exclusão sociais e educacionais
Pode-se dizer que agora os termos de fundamentos de educação dos
surdos convergem em torno da mesma problemática. Aqui estão a respeito
varias diferenças importantes que não mais se fundam na velha pedagogia de
cunho ouvicentrico, isto é, que está centralizada numa concepção do “ser
ouvinte”.
Desejamos muito empenho em seus estudos, e não prometemos uma fácil compreensão da realidade educacional dos surdos, no entanto, nos estudos culturais eles são o que há de possível no momento.
Apresentamos aqui os objetivos que norteiam nossos estudos nesta disciplina.

Buscar conhecimentos dos fundamentos filosóficos, históricos,sociológicos e econômicos da Educação de Surdos para que seja possível identificar a língua de sinais, seus espaços, sua possibilidade da emergência de posições didáticas e sua percepção como língua de um povo.

Fundamentar a língua de sinais com suas possibilidades na história
Mostrar as resistências da língua de sinais face ao historicismo
Identificar fundamentos legais da educação de surdos. Ter uma visão da língua de sinais cujos fundamentos se perdem na cultura, na identidade, na memória de um povo.
Apresentar os fundamentos da educação dos surdos.
Procurar refletir a realidade da educação de surdos no Brasil.
Fomentar a análise crítica do papel da Educação de Surdos diante da
realidade sócio-cultural brasileira.
Estimular a discussão das relações existentes entre educação de
surdos, cultura e língua de sinais.
1 - UM BREVE PASSEIO PELAS RAÍZES DA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO DE
SURDOS
A história comum dos Surdos é uma história que enfatiza a caridade, o sacrifício e a dedicação necessários para vencer “grandes adversidades”.
Nídia Limeira de Sá
Para refletirmos as fundamentações da educação de surdos atual, não
há nada melhor do que fazer um breve passeio pelas raízes da história de
surdos.
Conhecer a história de surdos não nos proporciona apenas para adicionarmos conhecimentos, mas também para refletirmos e questionarmos diversos acontecimentos relacionados com a educação em várias épocas, por exemplo, por que atualmente apesar de se ter uma política de inclusão, o
sujeito surdo continua excluído?
A história da educação de surdos não é uma história difícil de ser analisada e compreendida, ela evolui continuamente apesar de vários impactos marcantes, no entanto, vivemos momentos históricos caracterizados por mudanças, turbulências e crises, mas também de surgimento de
oportunidades.
Como vemos pelo título do texto ’Um breve passeio pelas raízes da história de educação de surdos’.
Porque raízes?
É pelas raízes numa história que surge revelações trazendo à luz as
discussões educacionais das diferentes metodologias, pode-se observar que a
raiz central das disputas sempre esteve ligada a respeito da língua, ou seja, se os sujeitos surdos deveriam desenvolver a aprendizagem através da língua de sinais ou da língua oral?
O interessante é que estas decisões sobre a educação de surdos sempre foram determinadas por sujeitos ouvintes que se autoconferem poder
para a tomada dessa decisão.
Antes de surgirem estas discussões sobre a educação, os sujeitos
surdos eram rejeitados pela sociedade e posteriormente eram isolados nos
asilos para que pudessem ser protegidos, pois não se acreditava que
pudessem ter uma educação em função da sua ‘anormalidade’, ou seja aquela
conduta marcada pela intolerância obscura na visão negativa sobre os surdos,viam-nos como ‘anormais’ ou ‘doentes’
Muitos anos depois os sujeitos surdos passam a ser vistos como cidadãos com direitos e deveres de participação na sociedade, mas sob uma visão de assistencial excluída.
Naquela época, não tinham escolas para os sujeitos surdos. Com esta
preocupação educacional de sujeitos surdos fizeram surgir numerosos
professores que desenvolveram seus trabalhos com os sujeitos surdos e de
diferentes métodos de ensino.


[Íntegra do texto]

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